sexta-feira, 11 de julho de 2008

Autocrítica: o discurso da mídia

Na época em que estava prestando vestibular, minha então professora de Gramática e Redação foi bem taxativa: “Faça Jornalismo”. Eis o início de tudo. Assim como eu, quem tem a vocação para seguir essa jornada, insiste em escrever e opinar todo o tempo. Parece que precisamos de atenção. Somos todos carentes. Queremos discursar para a multidão.

Mas é fácil escrever ou falar para um público que nem sempre tem “cultura” suficiente para nos criticar, apontar erros, exigir esclarecimentos. Abusando dos recursos de linguagem, fingindo não opinar na narrativa dos fatos, estamos freqüentemente montando discursos (pior: muitas vezes vazios). Facilmente nos deixamos embriagar pelo poder mítico enraizado nas mensagens das mídias a que pertencemos.

Infelizmente, há jornalistas que podem ser classificados até como estrategistas – seja para convencer seu interlocutor de uma verdade em que ele aposta ou, no mínimo, garantir que seu chefe dê crédito aos seus juízos de valores, continuando a confiar no seu taco e garantindo sua vaga no emprego!

Será que não se assemelha à autuação política? Vamos à minha lógica. Para o doutor em Ciências da Linguagem Patrick Charaudeau, o discurso político é, por excelência, o lugar de um jogo de máscaras. Elas, por sua vez, são nossa imagem diante do outro, capazes de ocultar (quando não impedem de identificar a pessoa mascarada) e simular (quando nos dão uma imagem diversa da escondida). Nelas se confundem o ser e o parecer, a pessoa e a personagem.

Notaram?..

Caricaturamos a realidade, mas, mesmo para nós, fingimos que ali está tudo nu e cru. Quando sabemos que é um mito a imparcialidade. E a cada palavra escrita, frase enunciada, os receptores fazem uma leitura única, com interpretações bem íntimas, baseados em suas vivências. Eles não são tão tolos quanto às vezes imaginamos.

Por mais que possamos crer no nosso poder intervencionista como comunicadores, o mundo não gira na direção que apontamos. Nossa atuação como lideranças da mídia, nosso jogo de palavras, o poder de persuasão que temos ali ao nosso alcance bem que interfere na realidade, sim. Mas, convenhamos, a vida segue o seu caminho.

Um comentário:

Tallita Marques disse...

É verdade. Às vezes, caimos no erro de acreditar que o público é um mero decodificador da mensagem que queremos passar. Esquecemos que ele também pensa, ora! e tira suas próprias conclusões. Essa postura, digamos, "arrogante" é mais comum do que pensamos no nosso meio e prejudica o real sentido do que é fazer jornalismo.